"Negar o embarque é negar humanidade": especialistas criticam decisão da TAP sobre cão de suporte
- Redação Pet Mania

- 3 de jun.
- 2 min de leitura
Após mais de 50 dias e três tentativas falhas, cão de assistência chega a Portugal e reencontra menina autista; familiares e profissionais ressaltam importância vital do animal no bem-estar da criança.

O cão de assistência Teddy, responsável por prestar suporte a Alice, uma menina autista de 12 anos, finalmente desembarcou em Portugal na madrugada deste sábado (31), após permanecer 52 dias afastado da família e passar por três tentativas frustradas de embarque.
A ampla repercussão do caso levou à articulação de uma negociação entre o Ministério de Portos e Aeroportos, o pai da menina e a companhia aérea TAP, permitindo que o animal realizasse a viagem. Teddy foi transportado em um voo da própria companhia portuguesa, acompanhado pelo treinador Ricardo Cazarotte e pela irmã de Alice, Hayanne Porto.
Glauco Lima, treinador especializado e considerado uma referência em cães de assistência e alerta médico na América do Sul, explica que a distinção entre um cão de suporte emocional e um de serviço está diretamente relacionada ao treinamento, às funções desempenhadas e aos direitos legais associados. “Negar o embarque é negar humanidade. É inadmissível que práticas tão retrógradas ainda persistam no Brasil. O cumprimento rigoroso das decisões judiciais deve ser prioridade, especialmente em situações que envolvem saúde e inclusão. A capacitação das companhias aéreas quanto ao papel dos cães de serviço e os direitos das pessoas com deficiência é uma necessidade urgente”, enfatiza.
Segundo relatos dos familiares concedidos em diversas entrevistas, a presença de Teddy é indispensável no cotidiano de Alice, uma vez que, graças ao seu faro, ele consegue identificar crises de ansiedade antes mesmo que elas ocorram, atuando para minimizar a agitação e evitar episódios de desconforto. De acordo com a psicanalista Cintia Castro, autora de diversos livros sobre o transtorno do espectro autista, a ausência de um cão de assistência pode provocar um impacto profundo na vida de uma criança autista. “Sem o cão, a criança pode experimentar um aumento expressivo da ansiedade. Para muitas crianças no espectro, o cão de serviço funciona como um porto seguro, oferecendo sensação de proteção e tranquilidade”, explica.
A irmã de Alice relatou que a menina passou vários dias procurando o cão pela nova casa, o que confirma a observação da especialista. “Quando esse companheiro não está mais presente, podem surgir sentimentos de vulnerabilidade, tristeza e solidão, bem como alterações comportamentais, agressividade e maior dificuldade na socialização, desencadeando crises ou episódios de estresse, já que a criança perde uma de suas principais fontes de apoio”.
Para Glauco Lima, que percorre o mundo treinando cães com foco na promoção da saúde, casos como este servem de alerta para a necessidade de avanços na legislação, na conscientização social e nas políticas públicas voltadas a essa temática. “Precisamos de leis mais objetivas e uma fiscalização mais rigorosa, garantindo proteção às pessoas que dependem desses animais. É fundamental disseminar informações através da medicina e da política, além de criar órgãos competentes na área da saúde que possam certificar tutores e seus cães, tal como ocorre nos Estados Unidos e em Israel, onde há provas e avaliações para conceder a habilitação. Além disso, é imprescindível que exista empatia no atendimento: situações como esta exigem sensibilidade, não burocracia”, conclui.








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