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10 anos de Zebrafish: plataforma de pesquisa do Instituto Butantan comemora aniversário com lançamento de livro

Desde 2015, pesquisadores do LETA utilizam o peixe Paulistinha para promover a pesquisa, educação e divulgação científica; projeto já capacitou mais de 1 mil cientistas e celebra a primeira década de existência com lançamento de livro técnico


Mirko Rosenau/Shutterstock.com
Mirko Rosenau/Shutterstock.com

Nesta quinta-feira (16), o Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, celebra a primeira década da Plataforma Zebrafish – iniciativa que utiliza o peixe Paulistinha (Danio rerio) em pesquisas do setor de neurociência, farmacologia, toxicologia e biomedicina. O espaço, localizado no Laboratório de Toxinologia do Butantan (LETA), é aberto para visitações mediante agendamento e tem como um de seus pilares a divulgação científica para o público leigo, com foco em crianças e adolescentes.


Desde seu lançamento, em outubro de 2015, a Plataforma publicou 30 artigos, realizou cinco exposições e tirou do papel cinco projetos, incluindo o Paulistinha chega às escolas, que leva os cientistas às instituições de ensino e promove a troca de experiências entre pesquisadores e estudantes. Além disso, foram lançados seis livros com foco em divulgação científica, que são, ainda, utilizados nas atividades promovidas pelo laboratório: Paulistinha chega às escolas; Paulistinha chega às Escolas: Livro do Professor; Oficina Zebrafish para Professores: Relação entre o zebrafish e o humano; Na Onda da Ciência; Um dia na Plataforma Zebrafish (gibi); e Zebrafish em Figurinhas: Protegendo o Meio Ambiente.


Agora, a Plataforma promove o lançamento do livro "Zebrafish: análise comportamental como uma poderosa ferramenta". Diferente dos anteriores, a nova obra tem caráter tecnicista e visa a capacitação de cientistas que planejam trabalhar com o peixe Paulistinha no País.


Segundo Mônica Ferreira Lopes, coordenadora da Plataforma Zebrafish e pesquisadora científica do Laboratório de Toxinologia Aplicada (LETA) do Butantan, o livro traz tal conteúdo em formato inédito e palatável, consolidando-se como o primeiro manual com foco na análise comportamental desse animal a ser publicado no Brasil.

“É muito importante realizar estudos comportamentais pois eles geram diversas respostas aos pesquisadores, seja para a nossa exploração sobre o sistema nervoso central, seja para a realização de um teste de toxicidade, ou mesmo para a avaliação de segurança de um fármaco. Então, é um guia que estávamos precisando na pesquisa”.

O livro não será comercializado, mas poderá ser acessado através da Biblioteca do Instituto Butantan (biblioteca.atendimento@butantan.gov.br), que guardará a versão física e também o conteúdo em PDF. As outras obras e artigos escritos pela equipe do Zebrafish podem ser encontrados da mesma maneira.


O trabalho não para por aí. Mônica planeja lançar um segundo livro com foco em cientistas no primeiro semestre de 2026, trazendo em suas páginas técnicas de criação e manejo – tema essencial considerando o aumento dos trabalhos envolvendo o Paulistinha. Desde 2021, foram publicados anualmente cerca de 4.500 artigos citando o Zebrafish em todo o mundo.


Embora as publicações com foco em cientistas estejam sendo lançadas agora, a preocupação com a educação de pesquisadores não é uma novidade para a Plataforma. Desde 2015, foram realizados 19 cursos de capacitação envolvendo o Zebrafish, três deles neste ano. Mônica estima que mais de 1 mil pessoas já tenham passado pelas aulas promovidas no Laboratório, sendo extremamente difícil encontrar alguém no Brasil que trabalhe com o modelo animal e não tenha conhecimento sobre a plataforma.


“O Zebrafish nasceu com três objetivos: fazer pesquisa na área de imunologia, toxicologia etc; promover o ensino, porque quando nós começamos a montar [a plataforma] eu vi as dificuldades e facilidades enfrentadas, então foquei também em transmitir o conhecimento sobre criação e manejo, biologia molecular e testes de comportamento; e realizar a divulgação científica, usando a Plataforma como ferramenta para chegar na sociedade. É isso o que a gente vem desenvolvendo nesses últimos 10 anos”, relata Mônica.

Histórico do Zebrafish no Butantan


O peixe Paulistinha começou a ser pesquisado no Butantan em 2015, tendo seus estudos diretamente ligados ao Centro de Pesquisa em Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização Celular (CeTICS), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiados pela FAPESP. Na época, especialistas do Instituto enxergaram potencial no uso do Zebrafish como modelo experimental e foram a outras instituições de referência, nacionais e internacionais, para estudar a sua implementação oficial no Butantan.


Dentre as principais dificuldades em iniciar o biotério, Mônica relata a criação do ambiente e também o manejo da espécie, processo que levou cerca de dois anos para ser conquistado.

“A criação reflete o sucesso da sua pesquisa e tudo que será feito posteriormente. Manter um biotério com qualidade é um desafio diário”.

Hoje, a equipe do LETA domina o manejo do Zebrafish, mantendo os mais de 6 mil peixes adultos e juvenis do biotério em condições salubres e alinhadas à ética animal. O projeto conta com duas pesquisadoras do Instituto Butantan, quatro funcionários da Fundação Butantan, três doutores realizando pós-doutorado e outras vagas rotativas, comumente preenchidas por alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e estágio obrigatório.


A primeira década do projeto é comparada por Mônica à primeira infância de uma criança: foi um início bem sucedido, mas ainda há um longo caminho pela frente. A pesquisadora pretende, por exemplo, ter peixes transgênicos (que sofreram mutação genética) no futuro, que permitiriam ampliar o leque de estudos.


Mesmo com novos obstáculos a serem vencidos, Mônica enxerga o trabalho feito até aqui com satisfação e alegria: “Eu só desejo à plataforma uma vida longa, com a minha presença ou não. Desejo que ela vá subindo cada vez mais um degrauzinho, e sempre abraçada pelo Instituto Butantan. Saber que hoje essa plataforma é uma referência para o Butantan e que o Instituto se tornou uma referência em Zebrafish me deixa feliz; acho que cumprimos parte desse caminho que estamos trilhando”.


Vantagens do Zebrafish


Há diversos pontos que tornam o Zebrafish atraente para a pesquisa. Para começar, ele tem um baixo custo de criação quando comparado a outros modelos experimentais, como os camundongos. Além disso, a espécie não costuma passar dos 3,5 cm de comprimento, o que facilita sua manutenção em espaços menores. Outra vantagem está no acasalamento do peixe, que gera entre 200 e 300 embriões – principal fase de desenvolvimento utilizada na pesquisa.


A reprodução do Zebrafish ocorre de forma externa, gerando embriões transparentes. Tal fato permite um maior acompanhamento por parte dos pesquisadores, que podem aproveitar esse momento germinativo para colocar compostos em contato com o peixe. Esses materiais são absorvidos pelo embrião sem necessidade de injeção ou outros tipos de manipulação, minimizando o estresse animal.


Há ainda vantagens genéticas: os genes do Zebrafish e dos humanos apresentam uma similaridade de 70%, ou seja, é possível que aquilo observado nos peixes se repita para as pessoas. O sistema imunológico do animal também apresenta correspondências com o humano, assim como seus olhos e coração. Dessa forma, os cientistas podem ter o Paulistinha como aliado na busca por tratamento para problemas como glaucoma, retinopatia, doenças cardíacas e até mesmo o câncer.


Por fim, o Zebrafish movimenta uma cadeia produtiva inteira. Ele é usado na academia, para o desenvolvimento de dissertações e teses, mas também se expande na indústria farmacêutica, sendo aplicado na etapa de seleção de compostos para a obtenção de novos medicamentos. O peixe é capaz de avaliar doses de fármacos e testar sua toxicidade de forma rápida e mais barata. Além disso, existe no mundo um mercado voltado para a criação dos Paulistinhas, com empresas que produzem rações específicas, mobiliários e até mesmo softwares de análise para os resultados de pesquisa envolvendo o animal. Os 3,5 cm do peixinho não refletem o tamanho de sua notoriedade na ciência.


A plataforma Zebrafish pode ser visitada por pesquisadores, escolas e grupos interessados no tema através de agendamento pelo e-mail plataforma.zebrafish@butantan.gov.br.

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