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Xenotransplante: projeto com porcos geneticamente modificados é apresentado em Piracicaba

Pesquisa pioneira visa criar suínos doadores de órgãos para humanos e promete transformar o futuro dos transplantes no Brasil


Guilherme Leite - MTB 21.401
Guilherme Leite - MTB 21.401

Um projeto inovador voltado para a produção de suínos geneticamente modificados como doadores de órgãos para humanos foi apresentado na noite da última quinta-feira (29), durante sessão na Câmara Municipal de Piracicaba (SP). A proposta, conhecida como xenotransplante, envolve a colaboração entre o Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e a startup XenoBrasil, além de outros pesquisadores e instituições parceiras.


A apresentação ocorreu durante a suspensão do expediente da 30ª Reunião Ordinária da Câmara, a pedido da vereadora Silvia Morales (PV), do mandato coletivo A Cidade é Sua.



Por que porcos?


De acordo com a Dra. Simone Raymundo de Oliveira, pesquisadora do Instituto de Zootecnia, o suíno é considerado o animal mais compatível com o ser humano em termos anatômicos, fisiológicos e até comportamentais. A possibilidade de transplantes diretos de órgãos desses animais só se torna viável graças à remoção genética de um açúcar presente nas células suínas que provocaria rejeição nos humanos.


“Hoje, o porco já é doador de válvulas cardíacas e pele, e a insulina já foi extraída do pâncreas suíno. A novidade é que agora conseguimos modificar esses animais para que possam doar rins, fígados, córneas e outros órgãos inteiros, de forma mais segura e eficiente”, explicou a pesquisadora.



Ética e ciência lado a lado


A pesquisadora reforçou que os animais serão criados sob condições rigorosas de bem-estar e biossegurança, e que o projeto não visa “sacrificar animais por sacrificar”.


“Eles continuarão vivos naqueles que precisam desses órgãos. O objetivo é dar uma nova chance a pessoas que aguardam por anos nas filas de transplante, muitas vezes debilitadas, com comprometimentos em vários órgãos devido à demora”, disse Simone. “Não é obrigatório aceitar um órgão suína, mas a ciência está criando essa possibilidade para salvar vidas.”



Estrutura de ponta e previsão de início


O médico veterinário Fernando Whitehead, que também participa do projeto, informou que a estrutura física já está em fase final de preparação na Fazenda do Estado, em Piracicaba. A unidade contará com capacidade para 144 animais, maternidade, creche, centro cirúrgico, sala de necrópsia e laboratório — tudo em um ambiente 100% controlado.

A inauguração do espaço está prevista para junho de 2025, e os primeiros animais devem chegar até 20 de junho deste ano.



Um avanço que coloca o Brasil no mapa da inovação


A Dra. Thamires Santos da Silva, da XenoBrasil, destacou que a pesquisa coloca Piracicaba em posição de destaque no cenário internacional:

“Essa tecnologia está sendo pesquisada no mundo todo como forma de combater a escassez de órgãos. Estamos felizes em ver Piracicaba se tornando referência global nessa área.”

De fato, o Brasil já ocupa um lugar importante nessa frente científica: o primeiro xenotransplante renal de porco foi conduzido por um médico veterinário brasileiro nos Estados Unidos. Em maio de 2024, a China realizou o primeiro transplante de fígado suíno em humanos, demonstrando que a prática começa a sair do campo teórico.


O maior desafio, agora, é garantir que os suínos sejam livres de patógenos e com mínima chance de rejeição, um passo essencial para a segurança dos futuros transplantes.

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