Irã intensifica restrições: passear com cães em locais públicos é vetado por motivos religiosos e sanitários
- Redação Pet Mania

- 11 de jun.
- 2 min de leitura
Quase vinte cidades iranianas proibiram oficialmente passeios com cães, alegando preocupações com higiene, segurança e valores culturais. Medida reforça tensões entre tradições islâmicas e influência ocidental

Passear com cães em espaços públicos está agora proibido em quase vinte cidades iranianas. A justificativa oficial para a medida envolve preocupações com higiene, segurança pública e manutenção da ordem, somadas a interpretações religiosas, conforme divulgou a imprensa local no último domingo (8).
Em algumas correntes do islamismo, tocar ou ter contato com a saliva de um cão é visto como algo impuro. Essa percepção cultural e religiosa influencia diretamente decisões como a que agora se expande por várias regiões do Irã.
Apesar de não existir uma legislação nacional que impeça a posse de cães no país — que tem maioria muçulmana — muitos cidadãos mantêm cães como animais de estimação, o que cria um paradoxo entre práticas populares e normas conservadoras. Para certas lideranças religiosas e políticas, possuir um cão representa um sinal de ostentação e é encarado como uma expressão da influência cultural do Ocidente, que muitos criticam abertamente.
A nova regra já está em vigor em pelo menos 17 cidades, entre elas Isfahan e Yazd, na região central, Kerman, ao sul, e Ilam, no oeste iraniano. “Medidas legais serão adotadas contra aqueles que desrespeitarem a norma”, alertou o jornal reformista Etemad, citando uma autoridade da cidade de Ilam, sem fornecer mais detalhes sobre quais sanções serão aplicadas.
Na capital Teerã, embora uma orientação semelhante tenha sido anunciada pela polícia desde 2019, sua aplicação tem sido branda. Em muitos bairros nobres da cidade, tutores de cães continuam a caminhar com seus animais em ruas e parques, onde também existem diversas lojas voltadas ao mercado pet.
Mesmo assim, as autoridades continuam a condenar publicamente a prática. “Levar cães para passear representa um risco à saúde da população, à tranquilidade social e ao bem-estar coletivo”, declarou Abbas Najafi, promotor da cidade de Hamedan, no oeste do país, em entrevista ao jornal estatal Iran no sábado.
A repressão à presença de cães em espaços públicos não é recente. Em 2021, 75 parlamentares iranianos assinaram um documento classificando a posse de animais domésticos como uma “ameaça social prejudicial” à sociedade.
Já em 2017, o líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, reiterou essa visão conservadora ao afirmar que “ter cães por motivos que não sejam pastoreio, caça ou proteção é algo reprovável”. Na ocasião, citando a agência Tasnim, ele completou: “Se essa prática se assemelha ao comportamento de não muçulmanos, promove seus costumes ou causa distúrbios à vizinhança, então é considerada ilícita”.
Em 2016, a cidade de Shahin Shahr, no sul do Irã, já havia causado polêmica ao ordenar a apreensão de animais de estimação em uma tentativa de combater o que chamou de “cultura ocidental vulgar”.
As restrições refletem o embate crescente entre os valores tradicionais da República Islâmica e os costumes modernos adotados por parte da população urbana. Embora o afeto pelos animais de companhia tenha crescido entre os iranianos, a repressão à visibilidade desses vínculos continua firme em várias regiões do país.








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