A ilusão do 'bife de inseto': por que a 'carne do futuro' não decola?
- Patrick Araujo

- 2 de jul.
- 3 min de leitura
Um novo estudo revela que aversão e custos elevados impedem a adoção massiva de alimentos à base de insetos, favorecendo alternativas vegetais.
Desvendando o Potencial dos Insetos na Alimentação Futura
Produtos alimentícios formulados a partir de insetos, como hambúrgueres de grilo e barras nutritivas com larvas, têm sido frequentemente apresentados como soluções ecologicamente viáveis para substituir as proteínas convencionais. No entanto, uma recente investigação científica aponta que essa perspectiva pode estar mais alinhada a uma estratégia de marketing do que a uma realidade plausível.
A aversão ao consumo de insetos é tão acentuada nas nações ocidentais que sua capacidade de mitigar a ingestão de carne é considerada insignificante, segundo os pesquisadores. A alocação de capital por parte dos investidores reflete essa tendência: menos de 1% dos investimentos no setor de insetos é direcionado para alimentos destinados ao consumo humano.
O estudo, fruto da colaboração entre pesquisadores dos Estados Unidos e da França, foi divulgado na renomada revista 'Nature npj Sustainable Agriculture'. A condução da pesquisa ficou a cargo de Corentin Biteau, um especialista do The Insect Institute, uma instituição dedicada a analisar os 'desafios e as incertezas relacionadas à produção e ao uso de insetos para alimentação humana e animal'.
Metodologia e Obstáculos Fundamentais
A investigação utilizou uma abordagem de síntese, compilando dados e estudos preexistentes, com especial atenção para publicações entre 2023 e 2024. Entre as fontes consultadas, destaca-se uma revisão abrangente de 91 artigos científicos e relatórios de mercado.
Apesar dos inegáveis benefícios ambientais, a pesquisa conclui que os alimentos à base de insetos provavelmente não desempenharão um papel substancial na transição para padrões alimentares mais sustentáveis. Os autores identificam três barreiras primordiais:
1. Repulsa Sensorial e Cultural: A grande maioria dos consumidores associa insetos a impureza, enfermidade e forte aversão. Menos de 30% da população estaria disposta a experimentá-los.
2. Baixa Competitividade de Mercado: Produtos que contêm insetos tendem a apresentar preços mais elevados, menor palatabilidade e menor acessibilidade em comparação com a carne tradicional ou com as alternativas vegetais.
3. Baixo Investimento: Em 2022, uma parcela mínima, apenas 0,6%, do capital investido na indústria de insetos foi direcionada para produtos alimentícios com potencial de substituir a carne.
A Vantagem das Alternativas Vegetais
Inicialmente, os insetos foram vistos como uma promissora solução devido à sua eficácia ecológica: demandam menos espaço para criação, emitem uma quantidade reduzida de gases de efeito estufa em comparação com gado bovino ou suíno, e podem ser nutridos com resíduos orgânicos. Além disso, exibem uma notável densidade proteica.
Contudo, o estudo ressalta que essa vantagem não é exclusiva. A maioria dos produtos de origem vegetal já demonstra um impacto ambiental inferior ao da carne. Adicionalmente, substitutos à base de plantas — como os hambúrgueres vegetais — possuem uma aceitação significativamente superior, alcançando até 91% em certas análises.
Barreiras Psicológicas e Culturais Persistem
O obstáculo mais preponderante, conforme apontam os pesquisadores, é de natureza psicológica: o arraigado sentimento de repulsa. Mesmo quando moídos ou incorporados de forma discreta, os insetos continuam a evocar aversão. Em testes com salsichas, pratos principais ou lanches, a taxa de aceitação permanece baixa. A situação é agravada pela falta de familiaridade e pela ausência de orientações para o preparo, o que dificulta a inclusão desses alimentos na dieta diária.
Outro desafio crucial é a carência de um alicerce cultural. Diferentemente do sushi, que conquistou o paladar global impulsionado pela riqueza da culinária japonesa, os insetos adentram o mercado como produtos genéricos, desprovidos de uma tradição culinária que os suporte.
A pesquisa também evidencia outros fatores limitantes, tais como:
- Neofobia alimentar (resistência a alimentos novos);
- Preocupações relacionadas à saúde, incluindo alérgenos e riscos biológicos/químicos;
- Aversão à concepção de insetos alimentados com resíduos orgânicos.
Impacto e Perspectivas Futuras
Ao comparar insetos com os análogos vegetais da carne, o estudo conclui que os produtos vegetais superam os insetos em praticamente todos os quesitos: aceitação, custo, sabor, acessibilidade e benefícios para a saúde.
Atualmente, aproximadamente 90% do mercado de alimentos com insetos consiste em itens que não rivalizam diretamente com a carne (como petiscos, massas e barras). Os autores advertem que, como os insetos geralmente possuem um impacto ambiental superior ao dos produtos vegetais, utilizá-los nesses segmentos pode ser 'prejudicial do ponto de vista da sustentabilidade'.
Na perspectiva dos autores, o investimento em alimentos à base de insetos corre o risco de desviar tanto a atenção quanto os recursos de soluções mais eficazes e promissoras para a sustentabilidade alimentar global.








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